sábado, 20 de maio de 2017



JOSÉ PINHEIRO DE FARIA CINTRA

Agradecimentos
            Agradecemos aos diretores, funcionários e estagiários dos órgãos pesquisados pela atenção a nós dedicada e eficiente atendimento. Em especial à Profª Graziela Alves Correa, ao Prof. Vanderlei Donizete Pereira e à Maria Consuêlo de Figueiredo, do Arquivo Histórico Municipal de Franca "Capitão Hipólito Antônio Pinheiro"; à Profª Maria Margarida Borges Pansani, ao Bruno Faria, à Profª Maria de Lourdes Freitas e à Eurípeda Cintra, do Museu Histórico Municipal de Franca "José Chiachiri"; ao pesquisador histórico José Limonti Júnior, da PROBRIG - Ibiraci - MG; ao Miguel dos Reis, do Centro de Memória de Passos - MG; à Luciana Viana Assunção, do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - MG; e ao Paulo Renato Soares Duarte, do Memorial do Legislativo do Rio Grande do Sul.

Sumário

 Introdução
Origens
Trajetória
Descendência
Referências
Notas

Introdução
            Elaboramos mais este trabalho, dentro de nossa proposta de oferecermos subsídios genealógicos para a história da região de Franca - Ibiraci - Jacuí, a partir de um documento que recebemos do pesquisador José Limonti Jr., da PROBRIG de Ibiraci - MG, que lhe fora enviado pela pesquisadora Virgínia Dolabela, de Sacramento - MG, encontrado na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
            Trata-se de um documento, datado de 1806, no qual aparecem citados o Capitão Hipólito Antonio Pinheiro e Guilherme de Barros Pedroso, figuras inconciliáveis no conflito da demarcação de limites entre as Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, além do Cabo Comandante José Pinheiro de Faria Cintra, estabelecido, documentalmente, em Jacuí - MG, no período de 1806 a 1809.
        O que primeiro nos chamou a atenção, neste último personagem, foi o seu sobrenome Cintra. Logo pensamos poder tratar-se de um parente do considerado fundador de Ibiraci - MG, Capitão Felizardo Antunes Cintra. Contudo, verificamos haver maior probabilidade, a ser confirmada, de uma ascendência comum entre José Pinheiro de Faria Cintra e o Capitão Hipólito Antonio Pinheiro, cuja mãe traz o sobrenome Faria, e o pai, Gomes Pinheiro, apelidos contidos, também, na ancestralidade de José. 
       Com certeza, conforme pesquisa nossa, ainda inédita, o sobrenome Cintra do Capitão Felizardo tem origem distinta do Cintra de José.

  Origens
           O português Manoel Pinheiro de Faria, natural da Freguesia de São Bartolomeu de Tadim, Termo de Barcelos, Acerbispado de Braga, filho de Antônio de Faria e de Joana Pinheiro (esta, segundo o genealogista Rafael Pinheiro de Ulhoa Cintra Neto, descendente de Tristão Gomes Pinheiro), casou-se na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG, atual Ouro Preto - MG, às 4 horas da tarde, do dia 25 de dezembro de 1748, com Quitéria Antonia da Fonseca, moradora, natural e batizada na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG, filha de Luiz Pedroso Cintra, e de Maria da Gama Reis.
 Fig.1 - Assento do casamento de Manoel e Quitéria

            Manoel e Quitéria, após casados, passaram a residir no Beco do Pinheiro, em Vila Rica - MG. Geraram, pelo menos:
                        1. Manoel Pinheiro de Faria Cintra, casado com Emerenciana Michelina de Ulhoa Cintra, filha de Manoel Ferreira da Silva Cintra e de Ana Isabel Brazida de Ulhoa;
                        2. José Pinheiro de Faria Cintra, nascido a 13 de abril de 1773, batizado no dia 25 do mesmo mês e ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG.
Fig.2 – Assento do batizado de José Pinheiro de Faria Cintra

          
Trajetória
            José Pinheiro de Faria Cintra, então Cabo de Esquadra pago, do Regimento de Linha, casou-se a 30 de julho de 1805, na Ermida da Ordem Terceira de São Francisco, em Vila Rica - MG, com sua prima, Jacinta Umbelina de Ulhoa, natural de Vila Rica - MG, batizada a 08 de outubro de 1786, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, do bairro de Antonio Dias, outra filha do Major Manoel Ferreira da Silva Cintra e de Ana Isabel Brazida de Ulhoa. Pela parte paterna, Jacinta Umbelina era neta do português João Ferreira da Silva, da Freguesia de São Miguel de Rebordoza, Bispado de Penafiel, e de Teresa Jacinta de Jesus, natural de Vila Rica - MG; bisneta de Manoel Antonio Dias e Ana Ferreira, e de Luiz Pedroso Cintra e Maria da Gama Reis (estes últimos, avós maternos de José). Pela parte materna, Jacinta era neta do advogado baiano Dr. Duarte Lopez de Ulhoa e da portuguesa Rosa Joaquina de Figueiredo Feyo, natural da Freguesia de S. Jorge, do Patriarcado de Lisboa.
Fig.3 - Assento do batizado de Jacinta Umbelina

Fig.4 - Assento do casamento de José e Jacinta

            O Major Manoel Ferreira da Silva Cintra, pai de Jacinta, nasceu a 22 de junho de 1764 e foi batizado no dia 29, do mesmo mês e ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. Ingressou no exército como soldado em 1782, passando a Cabo em 1786, a Furriel em 1790, a Tenente em 1797 e a Capitão em 1806. Exerceu o ofício de Tabelião e Escrivão da Provedoria da Junta da Real Fazenda, e de Escrivão de Ausentes na Comarca de Ouro Preto - MG. Casou-se a 14 de outubro de 1785, nessa mesma localidade, com Ana Isabel Brazida de Ulhoa, aí batizada a 11 de março de 1762, formando o casal tronco dos “Ulhoa Cintra”.            
               Moravam defronte à Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Vila Rica - MG, onde Ana Isabel faleceu a 21 de janeiro de 1810, sendo sepultada na Capela de Nossa Senhora do Carmo. Este casal também gerou, pelo menos: Maria Clara; Rosa; Joana; e o Tenente João Ferreira de Ulhoa Cintra.
 Fig.5  Assento do batizado de Manoel Ferreira

Fig.6 Assento do batizado de Ana Isabel


 Fig.7 Assento do casamento de Manoel e Ana Isabel

Fig.8 – Assento do óbito de Ana Isabel Brazida de Ulhoa

            José Pinheiro de Faria Cintra, em 1806, estava em Jacuí - MG, atuando como Cabo Comandante do Quartel e Intendência. Atesta-o o assento do batizado de seu primeiro filho, em abril, além de dois documentos assinados por ele: um, datado de 15 de agosto de 1806[1], observando-se que nesse documento não aparece o seu sobrenome Cintra; o outro, trata-se do citado na apresentação deste trabalho, cuja imagem da primeira folha exibimos a seguir, datado de 26 de dezembro de 1806.

 

Fig.9 - O documento, composto de 4 folhas, discorre sobre o encaminhamento, através de José Pinheiro, e do Capitão Manoel Francisco Neto, de informações do Cabo de Esquadra Guilherme de Barros Pedroso, sobre a atuação do Capitão Hipólito Antonio Pinheiro na divisa de SP - MG, endereçado ao Capitão Comandante José da Silva Brandão, sediado na Vila da Campanha da Princesa, atual Campanha - MG.

            José deve ter retornado a Vila Rica - MG em 1809, pois em 27 de junho daquele ano requereu, já em sua terra natal, como Cabo de Esquadra do Regimento de Linha, "licença de um mes para resolver assuntos familiares, e por estar sem uniforme, visto que esteve ausente em um destacamento de Jacuí."
Fig.10 – Requerimento de José, documento sob a guarda do Arquivo Público Mineiro

              No ano de 1820, José Pinheiro de Faria Cintra encontrava-se em Vila Rica - MG, exercendo a função de Escrivão de Órfãos, conforme atesta o documento a seguir, transcrição publicada por Paulo Augusto Castagna[2]:

“Aos quatorze dias do mês de novembro de mil e oitocentos e vinte anos nesta Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto e no meu Cartório e sendo aí presente o autor João Jose de Araújo e por ele foi trazida a Juízo a música pertencente à herança de Florêncio José Ferreira Coutinho, [...] E do referido, para constar, faço este Termo de Depósito em que assina com as testemunhas presentes em José Pinheiro de Faria Cintra, Escrivão dos Órfãos, que o escrevi. João Dias de Almeida; Antônio José Álvares Lobato; Joaquim José de Castro Neves.”

            Em 1821, conforme consta da Relação Nominal e Informação de Conduta dos Oficiais do 1º Regimento de Cavalaria de Milícias da Comarca de Ouro Preto, José, no posto de Alferes da 3ª Companhia, ainda vivia do ofício de Escrivão de Órfãos.  Naquele mesmo ano, na Câmara Municipal de Ouro Preto, prestou juramento de fidelidade à nova constituição que pelo Real Decreto de [...] foi confirmada e approvada tal qual se estava fazendo no Reyno de Portugal [...].
            José Pinheiro de Faria Cintra faleceu a 31 de julho de 1840, e foi sepultado na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto - MG. Jacinta Umbelina faleceu a 11 de outubro de 1844, nessa mesma localidade, sendo sepultada junto a seu marido.
                                        Fig.11 – Assento do óbito de José Pinheiro de Faria Cintra 

Fig.12 – Assento de óbito de Jacinta Umbelina


 Descendência
             Com o casamento, José Pinheiro de Faria Cintra e Jacinta Umbelina de Ulhoa geraram descendência que se estendeu por São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, assinando o sobrenome “Ulhoa Cintra”. Seus filhos:

                        1 – José Pinheiro de Ulhoa Cintra, nascido a 24 de março de 1806, em Jacuí - MG, onde foi batizado no dia 08 de abril do mesmo ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
 Fig.13 – Assento do batizado de José Pinheiro de Ulhoa Cintra

           Estudou em Ouro Preto - MG, conforme seu discurso proferido na Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul, na sessão de 04 de julho de 1849, publicado no jornal Correio de Porto Alegre, edição de 31 do mesmo mês e ano. Talvez possa ter estudado na Escola Régia da Freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto. Sua formação acadêmica, contudo, não aparece citada em nenhum dos autores por nós pesquisados, à exceção de Maria Medianeira Padoin, que afirma ter sido ele bacharel em Direito[3].

       José era alto, corpulento, moreno, cabelos pouco ondulados, testa grande, estrábico do olho esquerdo, usava bigode, muito simpático e toda sua pessoa cheia de dignidade[6]  
  Fig.14 – José Pinheiro de Ulhoa Cintra
                                Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul

            Ainda de acordo com o citado discurso, José teria se mudado para o Rio Grande do Sul em 1826, ficando sediado, como avulso (adido), em São Gabriel – RS, no posto de alferes, do 1º Corpo de Artilharia[4]. Provavelmente, para servir o Exército Imperial na Guerra da Cisplatina.
            Com o término do conflito cisplatino, como tantos outros, José foi morar em Rio Pardo - RS, aquartelando-se na famosa Fortaleza Jesus, Maria e José, construída em 1752, às margens do Rio Jacuí, na embocadura deste com o Rio Pardo, importante ponto estratégico militar na região.                                                       
            E foi naquela localidade que José casou-se, na Matriz de Nossa Senhora do Rosário, às seis horas da tarde, do dia 03 de dezembro de 1830, com Ricarda Elisea da Silva, natural da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira - RS, prima irmã do General Manuel Luís Osório[5]; filha de Antonio Coelho da Silva e de Maria Antonia Coelho de Magalhães. Geraram cinco filhas e um filho, o Tenente - Coronel Jayme Pinheiro de Ulhoa Cintra, que se casou com Maria Izabel Marques de Souza, sobrinha do Conde de Porto Alegre - RS.
                                       Fig. 15 – Assento do casamento de José e Ricarda
                                                           
           Contrariando o espírito conservador e monarquista de sua família, José abraçou a causa da Revolução Farroupilha, defendendo-a com constancia e coragem (discurso citado), fato esse que muito contrariou seu irmão Delfino. Ainda conforme suas próprias palavras: 

...desde a minha juventude fui idolatra da liberdade, e por amor d’ella muito tenho soffrido; os meus precedentes attestão esta verdade, e os factos fallão em meu abono: segui a cauza da revolução desta Provincia; por que me persuadi que podiamos ser republicanos; errei de certo; mas eu me sacriffiquei por ella, durante nove annos ...
 
           Outros mineiros, também, atuaram no movimento gaúcho. Dante de Laytano cita os irmãos, Tenentes - Coronéis, José da Silva Brandão (Filho) e Rafael Fortunato da Silva Brandão, filhos do Cavaleiro da Ordem de Avis, Brigadeiro José da Silva Brandão (citado no documento - Fig. 9), falecido em São Paulo a 08 de março de 1831, e de Ana Sanches de Seixas da Silva e Ávila Brandão; o músico Joaquim José de Mendanha, autor do Hino Rio - Grandense; o médico formado na Universidade de Edimburgo - Escócia, Dr. Marciano Pereira Ribeiro; o comerciante Francisco Modesto Franco; o Padre Antônio Pereira Ribeiro, tio do Dr. Marciano, e o industrial Domingos José de Almeida.
            José conseguiu ficar como suplente de deputado da 1ª Assembleia Provincial do Rio Grande do Sul, eleita em 1834, assumindo o cargo, em meados de março de 1836, quando quase todos os titulares (legalistas) encontravam-se ausentes. Laytano afirma que foi na Assembleia que a Revolução Farroupilha foi inteiramente preparada em todos os seus pormenores, estando José entre seus mentores.
             Ao eclodir a Revolução Farroupilha, José engajou-se em suas fileiras como homem de gabinete e pensamento, sendo aí considerado uma das maiores mentalidades. Contudo, não deu um apoio passivo, mas um empréstimo de dinamismo absolutamente criador da farrapiada[7]. Como jornalista, publicou diversos artigos nos jornais, nos quais exaltava a causa farrapa, versando também sobre temas políticos e administrativos. 
            Durante a existência da República Rio - Grandense (1835-1845) José exerceu as funções de Ministro da Justiça, e do Exterior. No desempenho da primeira função, foi o autor do decreto do sequestro de bens dos inimigos da Nação Rio - Grandense, medida, segundo Dante de Laytano, de forte responsabilidade e de forte repercussão no ambiente econômico do novo país, mas que se impunha como exigência imediata dos interesses público e político[8]. Na segunda, foi enviado, em 1836, como Ministro Plenipotenciário, à República do Prata (Argentina) e ao Paraguai, difícil missão desenvolvida com capacidade e grande discernimento político. Deixou uma farta e interessante correspondência sobre suas atividades diplomáticas. Também foi ministro da Marinha e da Guerra.
            Secretário Militar de  Bento Gonçalves da Silva, recebeu a patente de Coronel, para melhor proveito de seus atributos militares.
            Em 1842, por ocasião da formação da Assembleia Constituinte da nova República, que também desempenhou funções legislativas, José foi eleito com 1.964 votos, sendo o 17º mais votado entre os 36 eleitos. Foi então formada uma comissão para elaboração do texto constitucional, da qual José foi um dos membros. Segundo Sousa Docca, José é um dos maiores vultos farroupilhas, não só pelo seu valor mental, como pela inteireza de seu caráter, pela sua bravura e firmeza nos seus ideais[9].
            Pelas interferências do deputado provincial Dr. Israel Rodrigues Barcellos, na sessão legislativa, de 04 de junho de 1849, anteriormente citada, José teria sido vítima de várias agressões físicas. Em 1847, próximo a Caçapava do Sul, onde morava, sofreu ataque de 3 indivíduos, escapando milagrosamente incólume.
            Sua casa, hoje tombada pelo IPHAE, conhecida como Casa dos Ministérios, ou Casa de Reunião dos Farrapos, serviu para instalação dos ministérios da República Rio - Grandense, quando a cidade foi instituída a segunda capital farroupilha. Lá funcionou a tipografia do jornal oficial da revolução, “O Povo”, onde foram impressos 116 números dos 160 publicados. Atualmente é um dos pontos turísticos da localidade. Há em Caçapava do Sul uma rua denominada Ulhoa Cintra.
            Após a conciliação de 1845 (a Paz do Ponche Verde), José exerceu os cargos de subdelegado de  polícia, Juiz Municipal e 1º suplente de Juiz de Órfãos, em Caçapava do Sul, onde, também, elegeu-se vereador.
            Voltou a ocupar cadeira de deputado provincial nas legislaturas de 1848/49 a 1854/55, e de 1863/66. Em seu trabalho sobre o parlamento gaúcho, Sérgio Costa Franco afirma que José, em sua vida parlamentar deste período, esteve sempre ligado ao  Partido Conservador[10]. Era também correspondente, em sua cidade, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, sendo um de seus idealizadores. Foi colaborador de "O Guayba", jornal literário que circulou em Porto Alegre - RS de 1856 a 1858[11].
         José teria falecido, em Caçapava do Sul - RS, no dia 24 de julho de 1883[12] .

            2 – Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra, nascido a 23 de julho de 1807, em Jacuí - MG. Aos vinte anos de idade ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo - SP, terminando o curso em 1834. Exerceu a magistratura pelo interior de São Paulo. Foi deputado da Assembleia Provincial de São Paulo, nas legislaturas de 1838/39, 1844/45, 1850/51 e seguintes até 1858/59, e 1962/63, ficando como suplente na de 1840/41. Delfino era alto, cheio de corpo, bem moreno, rosto grande, barba raspada, cabelos pretos, gênio folgazão. Possuía dois timbres de voz, falava grosso e fino, quando de ânimo alterado[13].

                                     Fig. 16 - Assento do batizado de Delfino

      Delfino casou-se, em São Paulo - SP, com Antônia Benedita Dias da Silva, filha de Antônio Dias da Silva e de Maria Gomes. Geraram oito filhos, entre eles o advogado, jornalista e político, Dr. Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra Filho, o Conde de Parnaíba; e o médico e político Antonio Pinheiro de Ulhoa Cintra (Dr. Totó), o Barão de Jaguara, participantes da fundação da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro.

                        3 - Francisco, nascido a 30 de abril de 1810, batizado no dia 12 de maio do mesmo ano, na Matriz  de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG, aonde veio a falecer a 01 de junho do mesmo ano. Na época, José e Jacinta moravam na Ladeira da Praça.
 
                                          Fig. 17 - Assento do batizado de Francisco
                                          Fig. 18 - Assento do óbito de Francisco

                        4 – Maria, nascida a 11 de junho de 1811, foi batizada no dia 27 do mesmo mês e ano, na Matriz  de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. Faleceu, solteira, a 22 de abril de 1828, nessa localidade.
                                          Fig. 19 - Assento do batizado de Maria

                                      Fig. 20 - Assento do óbito de Maria 

                        5 - Rita Cândida Augusta de Ulhoa Cintra, batizada a 17 de janeiro de 1813, em Vila Rica - MG. 
                                      Fig. 21 - Assento do batizado de Rita Cândida Augusta

      Rita Cândida Augusta faleceu solteira, de hidropisia, em Passos - MG, a 11 de abril de 1893.
                                     Fig. 22 - Assento do óbito de Rita Cândida Augusta 

                        6 - Manoel dos Anjos Pinheiro de Ulhoa Cintra, nascido a 02 de outubro de 1815, foi batizado no dia 29 do mesmo mês e ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. Faleceu solteiro, em Passos - MG.
                                      Fig. 23 - Assento do batizado de Manoel dos Anjos

                       7 – Francisco de Assis Pinheiro de Ulhoa Cintra, Cônego, nascido a 27 de setembro de 1817 e batizado no dia 18 de outubro do mesmo ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. 
                                     Fig. 24 - Assento do batizado de Francisco de Assis 

     Francisco de Assis, ordenou-se padre pelo Bispado de Mariana - MG, conforme Processo de Ordenação nº 431, do ano de 1839, mantido pelo Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana - MG, tendo oferecido como patrimônio, parte de uma casa localizada em Ouro Preto - MG, onde residia.   Foi, conforme declarou em seu testamento, irmão das Ordens Terceiras, do Carmo em S. Paulo - SP, e dos Mínimos de São Francisco de Paula de Ouro Preto - MG.
       Ordenado padre serviu, como Vigário, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Franca - SP, entre os anos de 1841 e 1844. Posteriormente, atuou na Matriz de Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais - SP, assinando assentos como Pro Parocho, tendo solicitado, em 1847, a remoção de seu patrimônio do Bispado de Mariana - MG, pa humas moradas de casas que tinha na Villa de Batataes. Em 1849, foi nomeado Vigário de Passos - MG. Ficou, a partir do ano de 1850, como responsável pela construção da nova igreja Matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos. Em 07 de setembro do mesmo ano, esteve presente quando do Ato de Instalação e Posse da Vila Formosa do Senhor Bom Jesus dos Passos[14]. Em 02 de dezembro de 1851 foi nomeado, juntamente com José Pinto da Cunha, para promover a demarcação dos limites da Vila Formosa do Senhor Bom Jesus dos Passos - MG[15]. Também oficiou alguns sacramentos em Alpinópolis – MG, em 1869[16].
            Em sua edição de 31 de março de 1867, o Diário de São Paulo noticiava:

É, notável! O 5º districto de Minas Gerais foi ainda victima das violências do presidente daquella provincia (na época o Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho), em relação á parochia de Passos, baluarte conservador. Ahi, os subalternos da administração phantasiarão uma suposta sedição, e prenderão o dr Mizael Candido de Mesquita e o padre Francisco de Assis Pinheiro de Ulhôa Cintra, influências conservadoras naquella localidade; os outros chefes conservadores fugirão á perseguição, deixando o campo inteiramente livre ao governo! A Relação da côrte concedeu soltura habeas-corpus á esses distinctos prisioneiros da situação politica; mas, os progressistas fizerão os eleitores, e o conselheiro Saldanha Marinho, bem como seus subordinados, rirem-se da responsabilidade criminal com que a Lei, se fosse cumprida, os attingiria.
             
            Por carta, datada de 03 de outubro de 1868, Padre Francisco de Assis pediu ao Imperador do Brasil, através do Governador de Minas, Domingos de Andrade Figueira, as honras de Conego da Capella Imperial[17].
            O Semanário católico “O Apóstolo”, editado por padres ultramontanos envolvidos na reforma romanizadora, que se manifestavam contra a escravatura, em sua edição de 22 de janeiro de 1871,
... elogia a atitude do vigário da Freguesia de Passos, Minas Gerais, Francisco de Assis Pinheiro de Ulhoa Cintra, de alforriar três escravos menores de idade no Natal de 1870. O Apóstolo destaca que o sacerdote se comprometera a educar os libertos até a maior idade[18]

            Padre Francisco de Assis faleceu, de moléstia na espinha dorsal, em Passos - MG, a 30 de maio de 1889, com testamento ditado no dia 08 de novembro de 1880, e bens a inventariar. Foi sepultado, no dia seguinte, no cemitério da cidade, na catacumba que adquiriu de José Antônio da Silva Porto.

                                     Fig. 25 - Assento do óbito do Conego Francisco de Assis

            Seu inventário foi aberto no dia 15 de junho de 1889, tendo como inventariante Flávia Rita de Cássia, também sua testamenteira, casada com Fidelix Teixeira Lopes.
            Foram instituídos seus herdeiros no testamento: Amélia Guilhermina de Almeida, viúva de Antonio Teixeira Lopes, residente em Cássia - MG; Firmino Augusto de Ulhoa Cintra, advogado, morador em Franca - SP, um dos fundadores da Loja Maçônica “Amor à Virtude”, em 1871[19]; a própria inventariante e suas filhas: Francisca Umbelina de Cássia, casada com José Baptista de Assis; Evangelina Augusta de Cássia, casada com João Alves de Almeida, moradores em Passos - MG; e Olympia Ubaldina de Cássia, casada com Miguel Janucio.
            Em em seu testamento, também, Padre Francisco: concedeu liberdade às suas escravas, Ana e Teresa; deixou legado para: sua irmã Rita Cândida; Maria Etelvina da Silveira, casada com José Martins Machado; José Etelvino Silveira; seu afilhado Ildefonso Augusto de Ulhoa Cintra,  e Hermínia, filhos do já falecido José Augusto de Ulhoa Cintra; para os filhos de sua escrava, já liberta, Jacinta: Maria, casada com José Martins, também contemplado; José; João e Benigna; e para a Matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos[20].

 
                                       Fig. 26 – Interior da Matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos - Passos - MG
                                                                          Acervo dos autores

                        8 – Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra, batizado a 01 de janeiro de 1819, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. Casou-se com Manoela Guilhermina. Geraram dois filhos.
                                      Fig. 27 - Assento do batizado de Antônio

                        9 – Joana Umbelina de Ulhoa Cintra, batizada a 25 de junho de 1820, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG.
                                     Fig. 28 - Assento do batizado de Joana Umbelina 

      Joana Umbelina casou-se, na Matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos, Passos - MG, a 18 de junho de 1853, com o advogado Alferes Manoel Joaquim Bernardes, nascido e batizado na Freguesia de São Sebastião da Ventania, atual Alpinópolis - MG, filho de João Bernardes Nunes e de Maria Florenciana do Nascimento. 
                                     Fig. 29 - Assento do casamento de Joana Umbelina e Manoel Joaquim

     Joana Umbelina faleceu, de inflamação, a 25 de junho de 1872, em Passos - MG, deixando bens a inventariar, sendo seu inventário aberto no dia 11 de maio de 1875, tendo como inventariante seu marido. Os filhos do casal foram: Ana Bernardina Ulhoa Cintra, nascida por volta de 1854, e Joaquim Bernardes de Ulhoa Cintra, natural de Passos - MG, nascido a 18 de abril de 1859, lá batizado no dia 26 do mesmo mês e ano.
                                      Fig. 30 - Assento do óbito de Joana Umbelina  

                        10 – Ana Isabel de Ulhoa Cintra, nascida a 23 de junho de 1821 e batizada no dia 01 de julho do mesmo ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, Vila Rica - MG. 

                                      Fig. 31 - Assento do batizado de Ana Isabel

     Ana Isabel casou-se a 23 de maio de 1837, na mesma Matriz, com dispensa do impedimento de afinidade ilícita, em segundo grau de linha transversal desigual, com Manoel Olinto da Rocha Telles, Professor de Primeiras Letras, nascido e batizado em Três Pontas - MG, filho de pais incógnitos. Ana Isabel faleceu em São João del Rei - MG.
                                     Fig. 32 - Assento do casamento de Ana Isabel e Manoel Olinto 

                        11 – Silvério, nascido a 20 de junho de 1828 e batizado no dia 29 do mesmo mês e ano, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição do bairro de Antonio Dias, da já Imperial Cidade de Ouro Preto - MG.
                                      Fig. 33 - Assento do batizado de Silvério


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 CINTRA, Mons. Antônio Paes. Genealogia dos Cintra. Rio de Janeiro, 1949.
CINTRA NETO, Raphael Pinheiro de Ulhôa. Genealogia dos Ulhôa-Cintra, desde 1360 (Farias) e 1120 (Ulhoas) até 1944. São Paulo, Elvino Pocai, 1946.
GRILO, Antonio. Câmara de Passos: 150 anos. Passos-MG – Edição Oficial Comemorativa do Sesquicentenário, 1998.
GRILO, Antonio Theodoro. História de Nossa Gente – 150 anos – Fascículo 02.           Passos-MG - Edição Especial.
CALLAGE, Fernando. Episódios Históricos da Revolução dos Farrapos – Record - Rio de Janeiro.
DOCCA, E.F.de Souza. História do Rio Grande do Sul – Edição da Organização Simões. Rio de Janeiro, 1954.
LAYTANO, Dante de. História da República Rio - Grandense (1835-1845) – Livraria do Globo. Porto Alegre,1936.
PUBLICAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL – Tomo XXXI – República Rio Grandense – Farrapos – Seção Histórica – Coleção nº10 – Rebelião do Rio Grande do Sul (1835-1845) – Processo – Vol. 3º - Oficinas Gráficas do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 1935. 


REFERÊNCIAS DIGITAIS
www.projetocompartilhar.org/
Facebook Instituto Histórico e  Geográfico de Campinas


INSTITUIÇÕES CONSULTADAS
Cachoeira do Sul – RS
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul
Mitra Diocesana de Cachoeira do Sul
 Franca - SP
Arquivo Histórico Municipal “Cap. Hipólito Antônio Pinheiro”
Museu Histórico Municipal “José Chiachiri”
 Ibiraci - MG
PROBRIG – Protetores da Bacia do Rio Grande
 Mariana - MG
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana
 Passos - MG
Centro de Memória “Antônio Theodoro Grillo”
 Porto Alegre - RS
 Memorial do Legislativo do Rio Grande do Sul
  

Notas

[1] Transcrito por Augusto de Lima, publicado em seu livro “Limites entre Minas e S.Paulo - Resumo Histórico Documentado” (pág.255)
[2] CASTAGNA, Paulo Augusto. Uma análise paleoarquivística da relação de obras do arquivo musical de Florêncio José Ferreira Coutinho. VI ENCONTRO DE MUSICOLOGIA HISTÓRICA. Juiz de Fora: Centro Cultural Pró-Música, 22-25de julho de 2004. Juiz de Fora: Centro Cultural Pró - Música, 2006. p.38-84.ISBN:85-89057-03-8.
 [3] Concepções de República entre a elite farroupilha (1835-45) e a institucionalização da República Rio - Grandense – XXVII Simpósio Nacional de História ANPUH – Natal - RN 22 a 26 de julho de 2013
[4] PUBLICAÇÕES DO ARQUIVO NACIONAL – Tomo XXIX – pág. 346
[5] CINTRA NETO, Raphael Pinheiro de Ulhoa. Genealogia dos Ulhoa Cintra, pág. 168.
[6] Idem
[7] Laytano, em sua análise sobre o engajamento de militares brasileiros, de outras regiões do país, no movimento Farroupilha, assim define a contribuição deles.[8] LAYTANO, Dante de. História da República Rio - Grandense. Pág.129
[9] DOCCA, E.F. de Souza. História do Rio Grande do Sul – Pág. 334
[10] FRANCO, Sérgio Costa. Os 170 anos do Parlamento Gaúcho – Vol. 1 – A Assembleia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul (1835-1889) – Crônica Histórica
[11] GOMES, Carla Renata Antunes de Souza. Entre Tinteiros e Bagadus: memórias feitas de sangue e tinta.
[12] In lealevalerosa.blogspot.com.br, informação que não conseguimos comprovar documentalmente
[13] NOGUEIRA, José Luis de Almeida. A Academia de São Paulo Tradições e Reminiscências.Pág. 23 da sexta série.
[14] Grilo, Antonio Theodoro. Câmara de Passos: 150 anos!, pág. 33. 
[15] Idem, pág. 47.
[16] Lopes, José Iglair. História de Alpinópolis, pág. 22.
[17] Cúria Metropolitana de São Paulo, Secção Primeira, A 1847 – Processo DE HABILITAÇÃO DE GENERE ET MORIBUS – Estante 3 – Gaveta 17 – nº 1840. Disponível em site familysearch.org
[18] Pinheiro, Alceste in “O ventre livre em um jornal católico do século XIX” - Anais do III Encontro Nacional do GT História das Religiões e das Religiosidades.
[19] Conforme facebook da Loja Capitular Amor e Caridade, Rito Adonhiramita – Grau 04 ao 32.
[20] CENTRO DE MEMÓRIA ANTONIO THEODORO GRILO, Passos - MG – Inventário do Pe. Francisco de Assis Pinheiro de Ulhoa Cintra - Doc.15 – Pasta 30 – 1º Cartório.